«O Jorginho das medalhas»
O Dr. Mário Soares e, antes dele, o Gen. Eanes, já haviam sido justamente criticados pela profusão de comendas que distribuíram, o mais das vezes sem justificado mérito dos agraciados. Alguns, raros – p.e. Herberto Hélder –, recusaram-nas.
O Dr. Jorge Sampaio foi, neste aspecto, de uma prodigalidade assombrosa, a ponto de suscitar piadas e gags no programa Contra informação.
A este propósito, alguém recordou - muito adequadamente - o dito que surgiu e esteve em voga em meados do sec. XIX:
«Foge cão, que te fazem barão… Para onde, se me fazem conde?»
A honraria é uma excelente forma de conquistar boas vontades.
É efectiva e de certa forma adquire (compra), a baixíssimo preço, a gratidão do homenageado, a ponto de este ser tentado a hipotecar o seu mérito, por gratidão ou conveniência.
Porém, a profusão de comendas espelha a mediocridade de uma sociedade e tende, inexoravelmente, a diluir a o respectivo significado.
O próprio gesto de distinguir, vazio de significado, deixa de ser distintivo.
Ora, é de símbolos e de significados que estou a falar (aliás, a presidência da república é, em primeiro lugar, simbólica) e, quanto a mim, o momento mais lamentável dos consulados do Dr. Jorge Sampaio esteve relacionado com medalhas e com o simbolismo que lhes está associado…
Não, não estou a falar da já referida e lamentável generosidade na distinção concedida.
Refiro-me a um prémio recebido.
Em 13/10/2004, Jorge Sampaio, Presidente da República Portuguesa, recebia o Prémio Carlos V da Coroa de Espanha, pelo empenho nos ideais europeus.
Na altura, foi para mim confrangedor ver o meu Presidente da República deslocar-se a um país estrangeiro e aí dobrar a cerviz, literalmente, diante do respectivo soberano, para receber uma condecoração, se bem me lembro em forma de colar.
Simbolicamente tivemos um Presidente da República Portuguesa a prestar vassalagem ao Rei de Espanha, recebendo um prémio que evoca Carlos V imperador do Sacro Império Romano Germânico, no tempo em que a Espanha dominava o mundo...
Curiosamente, o ponto alto da presidência cessante ocorreu, também, por ocasião de um prémio conferido no estrangeiro.
Refiro-me, naturalmente, ao brilhante discurso que o Dr. Jorge Sampaio proferiu em Oslo a propósito de Timor, por ocasião da recepção do prémio Nobel da Paz conferido a Ramos Horta.
Esse discurso simbolizou e culminou o envolvimento e a intervenção decidida, empenhada e generosa de todo o povo português, que por uma vez se reviu nas diligências das suas autoridades.
2 Comments:
Soube hoje que o Dr. Soares conseguiu distribuir ainda mais medalhas do que o Dr. Sampaio.
É obra!
Com Festas e Bolos se enganamos tolos....já dizia a minha avó
Tobecas
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