quarta-feira, novembro 30, 2005

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a hora!
Valete, Frates.

Fernando Pessoa, in Mensagem

Fernando António Nogueira Pessoa n. em Lisboa em 13/6/1888 e m. também em Lisboa, em 30/11/1935, precisamente há 70 anos, portanto.
Parece-me adequado, este poema, ao momento político que atravessamos…