Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa no fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo:
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:
Ludibrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Manuel Barbosa du Bocage, n. em Setúbal, morreu em Lisboa (no Bairro Alto) há precisamente 200 anos.
Natália Correia, entre outros, considerou-o o 2º maior poeta português.
Neste soneto Bocage compara as suas desventuras com as de as de Camões, que reconhece como modelo. E as semelhanças são muitas: Ambos cruzaram o cabo da Boa Esperança e andaram pelo oriente, eram boémios, briguentos, tiveram muitos amores e morreram quase na miséria.
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