quarta-feira, janeiro 18, 2006

A reunião de ontem

As prestáveis e simpáticas irmãzinhas em boa hora convidadas para conduzir e abrilhantar a reunião de catequistas que se realizou ontem à noite em Algés, decidiram, munidas de portátil e de projector, concluí-la com a exibição muito fashion de uma conhecida apresentação em .pps (aquela, do Paganini, que durante um concerto continua a tocar, mesmo depois das cordas do violino se irem partindo uma a uma*).
Infelizmente as irmãs não fizeram o trabalho de casa, e não corrigiram os inúmeros erros de Português, nem extirparam da apresentação a música horrorosa que a acompanhava. Num requinte de malvadez, uma delas até se deu ao trabalho de aumentar o volume! (Imagino o pobre do Paganini lá onde está...)
Mas nem tudo foi mau.
De sua autoria deixaram uma provocação verdadeiramente original e estimulante:
- É necessário deixar interrogações nas crianças.
Assim é.
Nós, catequistas, deixamo-nos frequentemente embalar pelo método e pelo discurso quase escolar de transmitir conhecimentos aos meninos (e bem falta lhes fazem, dada a omissão das famílias). Quem é o menino Jesus, como se reza a oração a) b) ou c), quais são os sacramentos, etc. Mesmo quando os interpelamos, confrontando as exigências da nossa fé com os desafios da nossa vida, não resistimos a meter a nossa colherada, impedindo-os de retirarem conclusões.
No fundo não acreditamos na inteligência deles, nem no Espírito Santo.
Tornamo-nos chatos, e o nosso discurso rapidamente será esquecido.
Ora, a fé não é um conjunto de certezas e de dogmas que se aprendem ou transmitem.
É muito mais do que isso.
É algo que nos é dado e que nos provoca, que nos interpela, que nos obriga a reflectir e a sair do conforto (que alguns diriam burguês) e alienação das nossas coisinhas para olhar o mundo, o outro e os seus desafios à luz do olhar de Deus.
É, no fundo, o fundamento e o outro lado da Sua vocação/chamamento.
Se mais nada tiver sido dito com interesse (o que desconheço porque só estive na parte final), a reunião terá valido por esta ideia.

P.S. *
· Involuntariamente, as irmãs prestaram uma curiosa homenagem a um homem que foi cruel e severamente educado pelo pai e que chegou a ser perseguido por injustas acusações de satanismo – o que calha bem numa reunião de catequistas. Na verdade o seu lendário virtuosismo e a figura doente e cadavérica tornavam-no suspeito aos olhos de muitos. Católico, chegou a ser agraciado pelo Papa.
· Por trás da história contada na apresentação em .pps está a habilidade que Paganini desenvolveu conscientemente de tocar melodias numa única corda. A lenda associa o evento relatado não a um concerto com outros músicos, mas a uma serenata. Curiosamente, é um lugar comum entre os apreciadores de música, associar a Paganini a técnica de composição e execução que, recorrendo à utilização simultânea de diversas cordas, faz lembrar a utilização de diferentes violinos.