Uma orgia comercial
Hoje não é dia de São Valentim, nem em Portugal (nem, ao que sei, na Alemanha).
O dia dos namorados português foi, desde sempre, o dia de Sto. António, com perfumados mangericos decorados com quadras inspiradas, em perfeita sintonia com o tipicamente luso pendor poético do nosso povo.
Era bom que se salientasse este facto.
Esta lamentável aculturação dos costumes britânicos e norte americanos – como a festa do dia das bruxas e esta do dia de S. Valentim – foi voluntária e conscientemente introduzida pelos comerciantes e publicitários que, assim, sempre arranjam outro motor de vendas, particularmente útil em períodos antes pouco favoráveis ao negócio.
Antigamente, no comércio, as coisas só começavam a animar pelo Carnaval…
A anterior edição da Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, da Verbo, nem sequer tinha entrada para São Valentim e refere, apenas, três personagens importantes com esse nome:
- Um Papa, «afável e culto», que, verifico, teve um papado ainda mais curto ( sagrado em Agosto morreu em Setembro de 827) do que o de João Paulo I;
- Um pensador gnóstico da 1ª metade do sec. II, autor de salmos e do «Evangelho da Verdade»;
- e um arquitecto.
Isto diz bem das raíses da alegada tradição, a cujo nascimento qualquer pessoa com mais de 30 anos pôde assistir.
É lamentável que um povo se deixe assim manipular e descaracterizar!
E é surpreendente que a folha informativa da nossa paróquia - que voltou a ser semanal e, não obstante, continua imprescindível - caia no mesmo engodo, ainda por cima confundindo os costumes dos Saxões (originários da Saxónia/Alemanha), com os dos Britânicos, também conhecidos por bifes. :-)
Estes - os Britânicos - são, em grande parte, descendentes dos Bretões (de origem Celtas), dos Anglo-Saxões e dos Normandos.
Nem de propósito, há quem atribua os sinais particulares do Saint Valentine Day às festividades dos Celtas, depois Bretões e não tanto aos povos de origem germânica.
Não digo que o Saint Valentine Day não faça sentido… no meio do Inverno, já com os olhos na Primavera, é tempo de acasalar...
Naturalmente, a humanidade tratou de assinalar o facto, sacralizando-o em festividades.
Os Romanos tinham por esta altura a Lupercalia, grande festa que celebrava o amor e a juventude. Durante essa festa, sorteavam-se os nomes de casais e os que fossem sorteados ficavam juntos enquanto durasse o festival.
O Cristianismo tratou de cristianizar essa festa, como o fez, aliás, com todas as outras… - de notar que quando aquela que é hoje a Grã Bretanha foi invadida pelos Anglos, Jutos, Saxões, e mais tarde pelos Normandos era habitada pelos Bretões, já cristianizados, depois de parcialmente romanizados.
Sucede que tudo isto é estranho à nossa cultura. Temos o Sto. Antoninho, e os mangericos...
Hoje é o dia dos Padroeiros da Europa – S. Cirilo, monge e S. Metódio, bispo -, o que merecia destaque, alguma reflexão e, até, oração.
P.S. Os gringos têm uma festa que, essa sim, valeria a pena importarmos – o Thanksgiving Day / Dia de Acção de Graças.
Convinha-nos a nós tomarmos consciência e agradecermos o que de bom temos e somos (as bênçãos de Deus), obcecados que estamos, sempre, com o Vale de Lágrimas.
Alguém sabe a morada da Associação dos Produtores de Perus?...
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