quinta-feira, agosto 24, 2006

Plutão

Descoberto em 1930 por Clyde Tombaugh, Plutão foi na altura reconhecido como o nono planeta do sistema solar.
Após discussões durante décadas, sobretudo devido ao seu tamanho - que vem sendo reduzido, verificando-se presentemente ter 2.300 quilómetros de diâmetro – mas também em relação à sua órbita, a assembleia-geral da União Astronómica Internacional (IAU), composta por 2.500 astrónomos de 75 países, reunida em Praga, decidiu esta quinta-feira, retirar a Plutão o seu estatuto de planeta, passando assim o número oficial de planetas do sistema solar a oito : Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno.
De acordo com uma nova definição, que põe termo a um antigo vazio conceptual, passam a existir três grupos de planetas no sistema solar: o primeiro com os oito planetas «clássicos», o segundo com os asteróides e o terceiro grupo, dos planetas ditos anões, com Plutão, Ceres e o novo UB-313, descoberto no ano passado e que, com cerca, de 3.000 quilómetros é maior que Plutão.
Para além destes temos ainda os satélites naturais.
Caronte mantém-se como lua de Plutão.
Este, Plutão, é bem menor do que a nossa Lua (3.480 quilómetros).
Foto obtida aqui

terça-feira, agosto 22, 2006

A fábula dosporcos assados


Infelizmente desconheço o autor do texto infra, que adaptei:
«
Uma das possíveis variacões de uma velha história sobre a origem do assado é a seguinte:
Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, sempre que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque! Mas deparavam com alguns problemas que, no entanto, foram sempre sendo resolvidos com sucessivos aperfeiçoamentos, criando-se um grande SISTEMA.
0 que quero que atentem é no que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para implantar um novo.
A certa altura surgiram problemas: às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. 0 processo preocupava muito a todos, porque se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes. Milhares eram os que se alimentavam de carne assada e tambem milhares os que se ocupavam da tarefa de assá-los. Portanto, o SISTEMA simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, tanto mais parecia falhar e tanto maiores eram as perdas causadas.
Em razão das inúmeras deficiências, aumentaram as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o SISTEMA. Congressos, seminários e conferências passaram a ser realizados anualnente para encontrar uma solução. Mas parece que não acertavam na melhoria do SISTEMA. E assim, todos os anos se repetiam os congressos, seminários e conferências.
As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, eram atribuídas a indisciplina dos porcos, que nao permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda às árvores, excessivamente verdes, ou a humidade da terra, ou ao serviço de informacões meteorológicas, que não acertavam no lugar, no momento e na quantidade das chuvas...
As causas eram, como se vê, variadas e dificeis de determinar – na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo.
Foi sendo montada uma grande estrutura:
a) – Maquinaria diversificada, indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo, que eram também especializados: incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc., nocturnos e diurnos, com especialização em matutino e vespertino, de verão, de Inverno, etc. Havia também especialistas em ventos – os anemotécnicos. Havia um Director Geral de Assamento e Alimentação Assada (DGAAA), um Director de Técnicas Igneas (DTI), com o seu Conselho Geral de Assessores, um Administrador Geral de Reflorestação (ADR), uma Comissao Nacional de Formação Profissional em Porcologia (CNFPP) e o Bureau Orientador da reforma Igneo-operativa (BORI).
b) – Tinha sido projectada e encontrava-se em plena actividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação, utilizando-se regiões de baixa humidade e onde os ventos não soprariam mais do que três horas seguidas. Eram centenas de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que depois seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, fogo mais potente, etc. Havia grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno. Foram formados professores especializados na construção destas instalações. Investigadores trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos; fundações apoiavam os investigadores que trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construão das instalações para porcos, etc.
As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo, depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse os 47 graus, posicionar ventiladores gigantes em direcção oposta à do vento, de forma a direccionar o fogo, etc.
Não é preciso dizer que poucos especialistas estavam de acordo entre si, e que cada um baseava as suas ideias em dados e pesquisas específicos.
Um dia, um incendiador da categoria AB/SODM-VCH (Acendedor de Bosques especializado em Sudoeste Diurno, Matutino, com bacharelato em Verão Chuvoso), chamado JOAO BOM-SENSO, pensou e disse que o problema era muito fácil de ser resolvido – bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o entao sobre uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor – e não as chamas – assasse a carne.
Informado sobre as ideias do funcionário, o Director Geral de Assamento mandou chamá-lo ao seu gabinete e depois de ouvi-lo, pacientemente, disse-lhe:
- Tudo o que o senhor disse está muito bem mas, na prática, nao funciona. 0 que faria o senhor, por exemplo, aos anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? Onde seria empregado todo o conhecimento dos acendedores das diversas especialidades?
- Nao sei – disse João Bom-senso
- E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os projectistas de instalações para porcos, com as novas maquinas purificadoras automáticas de ar?
- Não sei.
- E os anemotécnicos, que levaram anos a especializar-se no estrangeiro, e cuja formação custou tanto dinheiro ao país? Vou mandá-los limpar pocilgas? E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? Que lhes faço, se a sua solução resolver tudo? Hein?
- Nao sei – repetiu João, encabulado.
- 0 senhor percebe agora que a sua ideia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos? 0 senhor não vê que se tudo fosse tão simples os nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo atrás? 0 senhor com certeza compreende que eu não posso simplesrnente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a usar brasinhas... sem chamas! 0 que espera o senhor que eu faça aos quilómetros e quilómetros de bosques já preparados, cujas árvores são tão especializadas que não dão frutos nem têm folhas para dar sombra? Vamos, diga-me.
- Nao sei, não, senhor.
- Diga-me, em relação aos nossos três engenheiros em Suino-Piro-Tecnia, o senhor não considera que sejamn personalidades científicas do mais extraordinário valor?
- Sim, julgo que sim...
- Pois então?! 0 simples facto de possuirmos valiosos engenheiros em Suino-Piro-Tecnia indica que o nosso sistema é muito bom. 0 que faria eu a indivíduos tão importantes para o país?
- Nao sei...
- Percebeu? 0 senhor tem é que trazer soluções para certos problemas específicos – por exemplo: como melhorar as anemotécnicas actualmente utilizadas, como obter mais rapidamente acendedores de Oeste (a nossa maior carência), como
construir instalacões para porcos com mais de sete andares. Temos que melhorar o SISTEMA, e não transformá-lo radicalmente, entende? Ao senhor, falta-lhe sensatez!

- Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não ande por aí a dizer que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Agora, entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua ideia. Isso poderia trazer graves problemas, a si e ao seu cargo. Não por mim... o senhor entende. Eu digo isto para o seu próprio bem, porque eu compreendo-o, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o senhor bem sabe que pode apanhar outro superior menos compreensivo, não é assim?

JOAO BOM-SENSO, coitado, não disse nem mais um "a" sobre o assunto. Sem se despedir e, meio atordoado, meio assustado, com a sensação de estar a caminhar de cabeça para baixo, saiu de fininho e nunca mais ninguém o viu.
Por isso é que ainda hoje se diz, quando ha reuniões de Reformas e Melhoramentos, que “FALTA O BOM-SENSO".»

quarta-feira, agosto 16, 2006


(teor do cartaz:
«Seu descanso é tanto que nem reparou que a imagem está de cabeça para baixo.»)

segunda-feira, agosto 07, 2006

O estado do mundo,

pode ser visto aqui.
A não perder!

sexta-feira, agosto 04, 2006

«O cemitério

Não existe nada de mais deprimente do que o Algarve urbano em dia de chuva e granizo. É preciso notar aqui que o Algarve urbano, com a sua arquitectura de pato-bravo e as suas colmeias de férias, é hoje, praticamente, todo o Algarve de barlavento a sotavento e sem distinção de paisagem, tirando as manchas de areia e mar e os campos de golfe verdes, que dão a ilusão de outro país, mais rico e mais ordenado, mais inteligente do que este.(…)
Apesar do mau tempo de Carnaval, as felizes famílias portuguesas estão na rua, engarrafando as estradas e os parques.
Porquê?
Porque não têm casas, nem lareiras, nem jardins, nem bibliotecas, nem as ocupações materiais e espirituais das classes possidentes ou dos povos europeus superiores.
Os portugueses têm casas desconfortáveis e sem aquecimento ou com um aquecimento insuficiente por causa das contas de electricidade, e por isso reúnem-se em lugares tão confortáveis como as praças de «fast-food» dos centros comerciais ou as tendas de Big Macs e Pizzas americanas congeladas. Enchem os cinemas e os hipermercados em dias de folga, entopem os «shoppings» e todos os lugares abrigadosque os façam esquecer uma vida entorpecida e pobre. Os portugueses vivem mal, e este viver mal não é exclusivo da falta de dinheiro. Vivem mal, porque não sabem, não saberiam viver melhor. Não se educaram para saber viver melhor. O dinheiro novo aprendeu a esquiar e a escorregar em desportos radicais, aprendeu a rota das Caraíbas e do Nordeste do Brasil mas, no que toca a preenchimento dos vazios mentais , os portugueses não aprenderam mais do que isto: a sua vida gira em volta do carro, da televisão e do telemóvel como formas de comunicação privilegiadas e arquivo de afectos e memórias. Falam uns com os outros da bicha da bilheteira de cinema para a do supermercado – onde é que estás, eu estou aqui e vou paraaí não tarda nada –e filmam-se e e fotografam-se uns aos outros fazendo estas coisas. O telemóvel é um dos modos de ilustração do horror da natureza ao vácuo.
Todos estes lugares prescindem do silêncio. E a sul,onde a praia convidaria a escutar a água e a chuva, tudo o que os portugueses fazem é encafuar-se no ruído para afugentar a solidão. O exemplo do Algarve reforça a ideia deste horror contemporâneo, mas existem outros exemplos do modo como tratamos o país e a sua beleza. Na costa alentejana, a tão gabada e cobiçada costa alentejana, montes foram comprados por gente da cidade, com um gosto mais apurado e um sentido ecológico mínimo que os leva a não estragar o que já está tão estragado. Num destes lugares da costa, onde passei um fim-de-semana, um lugar desabrido e com uma praia selvagem a desenhá-lo, resolvi ir darum passeio à beira-mar. Como estava sol, sentei-me nas dunas, a ler um livro e a apanhar os raios de luz. Com o cheiro, logo me dei conta do lugar onde estava. Era uma espécie de casa de banho pública, com papel higiénico sujo a esvoaçar, detritos, dejectos, lixo. Latas de cerveja vazias, garrafas de plástico, os preservativos do costume e mais lixo naufragado que a maré dava à costa. As praias portuguesas estão carregadas, e o Inverno serve para apreciar a noção que temos delas: uma lixeira a céu aberto. Nas praias geladas do Mar do Norte, ou da Cornualha, onde as pessoas passeiam ao fim-de-semana apesar da temperatura glacial, nunca vi um papel, um bocadinho de matéria descartável, objectos, matéria orgânica. E quando se passeia os cães, apanha-se a consequência do cão com um saquinho. A praia portuguesa de norte a sul, serve de estrumeira e não de lugar de contemplação. (…) Uma das características nacionais que abomino, esta é a que abomino mais. Mas, pensando bem, a ausência de consciência cívica que molda estes gestos é a mesma que construiu os prédios altos da Praia da Rocha, que era uma das mais belas praias do mundo, é a que fez os condomínios privados, que semeou pelo país fora o retalho como actividade desportiva e a megalomania materialista e consumista como substituição da espiritualidade ou de um sentido de pertença a uma comunidade. Os portugueses comovem-se muito com o que dizem de Portugal e dos portugueses (veja-se o sucesso do certeiro livro de José Gil), ou indignam-se muito, o que é uma forma de comoção, mas a sua comoção e indignação nunca se transformam em vontade actividade mudar o que quer que seja. As autarquias, o poder local, que sem tino e com toda a corrupção e ganância do mundo produziram este trabalho e esta mentalidade caótica reflectida na paisagem, são o espelho da pequena burguesia nacional, no gosto e na devoção pela autoridade e o desvio de autoridade como meio de enganar o sistema. A trapaça é a nossa mais verdadeira e lamentável vocação. Enganar o Estado, enganar o poder, como exemplo sublime de sobrevivência. E nada fica nas cabeças para além do que se consome no instante. Nada fica para além do gosto da mentira. Auto-iludimo-nos tanto nestes últimos anos que acreditamos que mudámos, mas, quando olho em volta e vejo este sul tão assassinado, esta vida tão miserável que levamos, pergunto-me se mudámos assim tanto. O se chegámos a mudar. E aqui teríamos de pensar que a democracia e a liberdade nos deviam ter ensinado a cuidar melhor daquilo que temos, e é nosso e não apenas de um grupo político-social de potentados. A democracia devolveu-nos o país e nós matámo-lo e matámo-nos com o gozo de achar que nos elevámos fazendo isto. No fundo de nós, sabemos que falhámos, e que chegou a hora de pagar o falhanço colectivo. E esta factura não é de Sócrates nem de Santana Lopes, retratos do que somos. Esta factura é nossa. Sem sol, com chuva e granizo este país parece-se muito com um cemitério.»

Clara Ferreira Alves, in Única 12/2/2005 pg. 88