quarta-feira, novembro 30, 2005

Outra vez, o Funes

Já uma vez sugeri aqui a leitura de um postal de um Colega que se apresenta, em honra de Jorge Luis Borges, como Funes, el memorioso.
Faço-o de novo, a propósito de um outro. Interessantíssimo e estimulante, como sempre.
cfr. em: http://questao-dos-universais.blogspot.com/2005/11/da-laicidade-do-estado-ii-em-dilogo.html#comments

Assinalando o início do Advento e a ordenação do Tiago como Diácono, realizou-se no passado Domingo, no Colégio de S. José, um encontro de jovens da paróquia de Cristo-Rei de Algés (Miraflores).

Estiveram presentes jovens dos 7º, 8º e 10º níveis da Catequese de adolescentes, dos Escuteiros dos agrupamentos de Algés e mesmo de Miraflores, e elementos do Grupo Totus Tuus.

Ambicioso nos propósitos, o encontro não foi preparado com o cuidado que merecia (foi combinado e meramente alinhavado, por apenas alguns dos responsáveis, na primeira reunião da Pastoral Juvenil da Paróquia que se realizou na sequência da vinda do novo pároco) mas, mesmo assim, correu bem e excedeu as expectativas de muitos, incluindo as minhas.
Alguns dos participantes, com quem falei no regresso a casa, estavam satisfeitos, embora muito cansados, e querem repetir.

Efectivamente, o encontro foi concluído com a participação na missa solene que se realizou nos Jerónimos. Com a duração de 2 horas, e com muita gente, foi um verdadeiro frete para os mais novos. De qualquer maneira foi bom termos marcado presença ao lado do Tiago.
Vamos voltar a ter pastoral juvenil em Algés?
Oremos, irmãos.
Pedro Cruz

P.S. Para os Mensageiros: A Rosarinho fez-nos uma curta visita à hora do almoço e rememorou, comigo e com a Henriqueta, o nosso encontro de há uns meses atrás.
Incumbiu-nos de vos mandar por este meio um abraço a todos. Ao que parece tem tido alguns problemas com o computador. Esperemos que os resolva rapidamente e nos dê um arzinho da sua graça, que, como todos sabem, previsivelmente será maior do que a nossa, pobres leigos perdidos neste mundo… :-)

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a hora!
Valete, Frates.

Fernando Pessoa, in Mensagem

Fernando António Nogueira Pessoa n. em Lisboa em 13/6/1888 e m. também em Lisboa, em 30/11/1935, precisamente há 70 anos, portanto.
Parece-me adequado, este poema, ao momento político que atravessamos…

terça-feira, novembro 29, 2005

Pedro e Pessoa

Para além de me encontrar mui longe do Poeta no que tange à capacidade de criação artística, outra coisa mais me fará estar nos seus antípodas:
- Enquanto Pessoa tinha heterónimos eu, modesta e humidemente, verei o meu nome com heterônticos (neologismo agora mesmo inventado pretendendo significar - um nome várias pessoas), se assim se pode dizer. ...
Com efeito, outras pessoas abilhantarão, provisoriamente, é certo, esta minha pobre assinatura.
Considerando as dificuldades da Henriqueta, e da minha irmã, em aceder ao blogue, sugerí-lhes que o fizessem através da minha conta, para o que lhes cedi o meu login e a minha palavra passe. Outras autoras que não eu, portanto, passarão a escrever sob a sombra protectora do meu ilustre nome.
Digamos que é uma pífia aproximação da Santíssima Trindade...
Abreijos a todos do verdadeiro eu.
Pedro

Sinais do Advento

Ontem à noite, no carro, depois de passarmos pelas decorações da Baixa e da árvore de Natal no Terreiro do Paço, o meu filho (de 5 anos) deixou cair, displicentemente e en passant, que iria deixar as botas junto da n/ árvore. Mal segurando o riso perguntei-lhe: - Olha lá, então não era um sapatinho?
Sem se desmanchar, o maroto respondeu-me, com ar inocente: - Ah, pois...
Lá tive que explicar-lhe que não podemos tomar o Pai Natal e o menino Jesus por estúpidos...

sexta-feira, novembro 25, 2005

O 25 de Novembro

30 anos! Como o tempo passa...
Com quase 10 anos, não retive, na altura, qualquer imagem ou ideia da Revolução que nos libertou do PREC.

É natural, o 25 de Novembro não foi uma festa vivida na rua, como o 25 de Abril, que recordo perfeitamente, tal como recordo muito bem o 28 de Setembro e o ambiente que se viveu no PREC, em tardia hora posto termo pelos acontecimentos que hoje festejamos.


Muito por influência de uma secretária do meu pai, nessa altura dizia-me do PPD (mantive-me fiel na preferência até ao fatídico dia 4/12/1980). Dos meus pais, nada, nunca, nenhuma influência directa bebi deles em termos políticos. Criados no ambiente cizento e amedrontado da ditadura, sempre foram ciosamente discretos quanto às respectivas opiniões políticas, que sempre tiveram firmes e esclarecidas, a avaliar pela quantidade e diversidade de semanários que sempre vi (e li) lá por casa: semanalmente O Expresso e O Tempo, com frequência O Jornal (curiosamente O Semanário, em substituição d'O Tempo, entretanto falido, nunca fez sucesso entre nós, ao contrário d'O Independente, de que fui, eu próprio, comprador e leitor fiel desde a 1ª hora) .

O regime democrático saído do tão cantado 25 de Abril não seria possível sem o quase ignorado 25 de Novembro.

Em história não há - ses - Não vale a pena, por isso, imaginarmos o que seria um Portugal em revolução permanente, numa deriva incontrolável para a extrema esquerda, rumo aos amanhãs que cantam, entoados pelas acolhedoras e viris vozes do bloco soviético, chinês, ou mesmo do não alinhado grupo terceiro mundista dos participantes da Conferência de Bandung.

Não percebo, por isso, que raio de má consciência justifica a enorme discrição com que a data é assinalada, oficialmente e na comunicação social.
Quase nem se dá por ela, e sempre são 30 anos, uma data redonda e bonita!

cfr. :
Cronologia desse período, p.e. em http://www.uc.pt/cd25a/cron_po/1975.html
Opiniões em: http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755414
em: http://dn.sapo.pt/2005/11/23/opiniao/a_licao_25_novembro.html
e em: http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2005/11/25-de-novembro-sempre.html
Noutra perspectiva, a opinião do já falecido Álvaro Cunhal, que teve um papel moderador não dispiciendo: http://www.rebelion.org/brasil/030713cunhal.htm
Tabém interessante a perpectiva de um dos actores principais desse período - O então P.R. Marechal (na altura ainda general) Costa Gomes:
http://www.presidenciarepublica.pt/pt/palacio/presidentes/costa_gomes_exp.html

terça-feira, novembro 22, 2005

Professores

Ontem vi a 1ª parte do programa Prós e Contras na RTP1 sobre a educação. Com a presença da ministra, e de um ex-ministro do PSD (que com ela concordou na generalidade), prometia.

Apesar de ter, desde há longos anos, má impressão relativamente a uma parte dos professores, parti para o visionamento do programa despido de preconceitos, ciente que estava de que este governo tem hostilizado e ofendido desnecessariamente algumas classes profissionais, especialmente na pessoa do inenarrável ministro Alberto Costa, que nem o Eng. Guterres, com toda a sua santa paciência, conseguiu aguentar por muito tempo.

Esperava ouvir da boca da Senhora Ministra da Educação um chorrilho de disparates e insultos, e da parte dos senhores professores a justa indignação de quem se sente matratado.

Não foi isso que vi.
Vi a senhora ministra firme, mas contida, demasiado contida, em atitude serenamente pedagógica. E vi também a atitude moral e intelectualmente idigente alardeada por vários dos senhores professores que, toldados, trataram de comprometer a respectiva imagem e posição, revelando-se profissionais incompetentes e irresponsáveis.

Exibiram à saciedade que não estão nas escolas para ensinar, mas para ter um emprego.

Com tantas razões de queixa legítimas para apresentar, preferiram deter-se na putativa ignomínia que é serem obrigados a organizarem-se para proverem a ocupação dos meninos quando os seus colegas faltam. E o problema reside precisamente aí (não se percebe, aliás, porque é que a senhora ministra teve pudor em levantá-lo). Como em muitos outros sectores da função pública, o problema das faltas dos professores continua, aparentemente, a ser dramático. À mínima indisposição, contrariedade ou necessidade de tempo, alguns senhores professores conseguem arrancar de alguns médicos solidários, também eles funcionários públicos, pródigos atestados justificativos de faltas variadas... e os alunos que fiquem ao deus dará, sem que a escola se responsabilize.

Os senhores professores consideram que não estão preparados para assegurar as actividades de substituição, embora, alguns, daqueles sem privilégios que, não colocados, andam a mendigar trabalho, aceitem, muito naturalmente, a meio do ano, turmas que não conhecem, em escolas que não conhecem. Os outros, cheios de prosápia, reclamam que não são nenhuns auxiliares de educação ou simples animadores para - ó indignidade - «estarem a tomar conta de meninos». Inferimos das suas palavras que os as auxiliares de educação já têm a prepração que lhes falta a eles, professores.

Quiçá injustamente, o cidadão conclui que não estão para ter trabalho, responsabilidades e preocupações.

A função pública tem este efeito pernicioso, com inusitada frequência faz de pessoas aparentemente qualificadas um rebanho de burocratas que, sem saber ao certo o que fazem, esperam directrizes, desresponsabilizando-se totalmente, alheando-se dos problemas, e só acordando do seu torpor para a defesa do satus quo, ou da dos seus míseros privilégios.

É triste.

E é por essas e por outras que, depois de algum contacto com escolas públicas, acabei por inscrever o meu filho numa escola privada, contra as minhas convicções, e contra as possibilidades da minha bolsa.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Os Mensageiros convidados mas sem resposta

Por segurança removi, parte do endereço de e-mail:

catabrito - 2005-07-01 14:03:21.09 - pending
sandra.correia - 2005-11-16 10:47:57.803 - pending
eduardatimoteo - 2005-11-18 08:43:36.69 - pending
mrosariosilva - 2005-07-01 14:17:47.246 - pending
tcristna - 2005-07-02 13:58:08.276 - pending
mviegas - 2005-07-01 14:20:57.14 - pending
eduardodamaso - 2005-07-01 14:27:16.263 - pending
acrocha - 2005-07-01 14:01:30.48 - pending
xavier.maria - 2005-07-01 14:13:55.403 - pending
paulomadeira - 2005-07-01 14:15:30.826 - pending
anelsaturno - 2005-07-01 14:13:55.23 - pending
mjoao - 2005-07-06 11:42:41.62 - pending
alex_marques - 2005-11-18 08:38:09.256 - pending
rafaeldolores - 2005-07-01 14:15:30.873 - pending
maximina - 2005-11-18 08:40:12.603 - pending
jcs_as - 2005-11-18 08:40:12.8 - pending
depoisdocaos - 2005-07-01 14:17:47.39 - pending
neves_ulisses - 2005-07-01 14:08:02.81 - pending
anitaneves - 2005-07-01 14:01:30.683 - pending
rodriguesnet - 2005-07-01 14:12:03.14 - pending
fcgoncalves - 2005-07-01 14:05:39.56 - pending
henriqueta.reis - 2005-11-18 08:38:09.293 - pending
teresarangel - 2005-11-18 08:40:15.88 - pending
cristina.vicente - 2005-07-11 11:45:26.713 - pending
fatimabcruz - 2005-11-18 08:38:09.343 - pending
jc@ - 2005-07-01 14:10:12.403 - pending
viledas69 - 2005-07-02 07:41:37.903 - pending
xica133 - 2005-11-18 08:43:36.72 - pending
iasousa - 2005-11-18 08:43:36.763 - pending
inesgaspar - 2005-11-18 08:34:59.513 - pending
icastilho - 2005-07-01 14:08:02.73 - pending
vissente - 2005-07-01 14:08:02.873 - pending

Os Mensageiros inscritos, mas sem actividade


atumvermelho
jose_viegas
atsousa
limusine
zinha22
mabthera
fatimafonseca
cardiga
vieiraze
paulolagarto
miguelcastilho

Escrever sobre o Natal

Apeteceu-me escrever algo sobre o Natal, mas deparei-me com uma enorme falta de inspiração, para dizer algo completamente novo. O Natal é sempre a mesma coisa, não é? Podemos descrever o Natal do ponto de vista dos Cristãos Puros, em que celebramos o nascimento de Cristo, tentamos ser mais bondosos, caridosos, etc, com o "próximo", ou do ponto de vista dos Cristãos "menos" Puros, a época de fazer a lista do consumismo, de correr todas as áreas comerciais, em busca do presente previamente encomendado pelo "próximo", de nos atafulharmos com comida, (porque assim é que é). Deveria surgir uma forma de celebrarmos o Natal sem este pressing de termos que dar uma "boa prenda" a todos os que vemos com regularidade durante o resto do ano.

Já alguns anos, que costumo contrair uma forma de depressão nesta época. Não sei se serei o único, mas que deve ter uma explicação do pressing das compras, lá isso deve.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Cristo Rei


«Disse-Lhe Pilatos: “Logo Tu és rei?” Jesus retorquiu: “Tu o dizes! Eu sou Rei! Para isto nasci, e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz”» Jo, 19, 37
Encerrando mais um ano Litúrgico, eis que chega a festa de Cristo Rei.
Cristo, Rei, anuncia a Verdade, é a Verdade e o Seu Reino, que «…não é daqui.» Jo, 19, 36, é um..., é o Reino da Verdade.
Os dizeres que acintosamente encimaram a cruz – I N R I – só parcialmente correspondiam à verdade, mas acabaram proclamando a realeza de Cristo. Jesus não é, apenas, o Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum, mas o que está escrito está escrito, e o que ficou escrito foi lido por todos.
É curioso, e simbólico, que a realeza de Cristo seja reconhecida e afirmada precisamente num julgamento, injusto, assente na mentira e na conveniência política.
Jesus, que no Sinédrio, perante o poder eminentemente religioso - Caifás, os anciãos do povo, príncipes dos sacerdotes e escribas -, reclama ser o Filho de Deus (p.e. Lc 22, 66-70), confirma a Sua Realeza perante Pilatos, representante do poder político.
Aquele(s) julgamento(s) e aquela condenação, simbolizam, para além do mais, este mundo e as suas regras. Naquele momento em que se concentram a mentira, a cobardia, a injustiça, a arrogância e a arbitrariedade, o tema central da alegação dos judeus e das questões de Pilatos é o de que Jesus se reclama rei.
E Jesus acaba mesmo sendo reconhecido Rei, proclamado Rei, tendo até sido coroado (e ataviado com os símbolos da realeza), embora com a única coroa possível que nós homens de um mundo de mentira tínhamos para lhe impor – uma coroa de espinhos. Mt 27, 27-31
«Quem é da verdade escuta minha voz.» (Jo 18, 37) Todos os que se encontram com o Senhor, escutam seu chamamento à Santidade e empreendem esse caminho – Ele é o Caminho - convertem-se em membros do Reino de Deus.
Jesus convoca-nos para construirmos desde já o seu Reino, e para isso envia-nos o Espírito Santo, que nos concede as graças para nos Santificarmos, transformando-nos e transformando o mundo no amor.
O Reino de Deus, fundado por Cristo, já está no mundo através da Igreja e somos nós, com a força do Espírito Santo, os seus construtores. «Por eles eu rogo; não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são Teus, e tudo o que é Meu é Teu e tudo o que é Teu é Meu, e neles sou glorificado. Já não estou no mundo; mas eles permanecem no mundo e eu volto para Ti. Pai Santo guarda-os em Teu nome que me deste, para que sejam um como Nós. Não peço que os tires do mundo, mas que os guarde do maligno. Eles não são do mundo como Eu não sou do mundo. Santifica-os na verdade; a Tua palavra é verdade.» (Jo 17, 9-11.15-17)
Enfim, é com enorme satisfação que, por feliz coincidência, acabo sendo paroquiano de uma freguesia - Algés - dedicada à Realeza de Cristo, e não à excelência de um dos seus órgãos, ou à de um dos seus discípulos...
Celebremos, pois!

segunda-feira, novembro 14, 2005

Maria

sexta-feira, novembro 11, 2005

A visita da imagem da Nossa Senhora de Fátima

Assinalando o Congresso Internacional para a Nova Evangelização, que decorre esta semana em Lisboa, temos a visita, amplamente anunciada em cartazes gigantes de discutível estética, da imagem de Nossa Senhora de Fátima.

Não se trata de uma qualquer imagem da Senhora. Não. É a verdadeira imagem, aquela que está na Capelinha das Aparições!

Sucede que só muito remotamente a Senhora de Fátima tem alguma correspondência com Maria, mãe do nosso Salvador.

O deus que nos é apresentado na mensagem de Fátima, ameaçador e distante, cuja ira tem de ser aplacada por intercessão da Senhora, à custa de intermináveis ladaínhas repetidas até à exaustão, nada tem que ver com o Pai (Mãe) querido e cheio de misericórdia que se fez próximo, enviando o Seu Filho para morrer por nós, vencendo a morte e o pecado, salvando-nos por Seu exclusivo mérito.

Nesse sentido, o culto de Nossa Senhora de Fátima apresenta laivos de inquestionável paganismo e é, digo eu, pouco Católico.

Exemplo disso é o facto de muitos fiéis, com inusitada frequência, resvalarem da veneração de Nossa Senhora de Fátima para uma indisfarçável adoração, num tráfico de influências em que se trocam sacrifícios e orações, ou melhor, rezas (como agora dizem os jornalistas ignorantes, neste caso com toda a propriedade), por graças por ela concedidas…

Dessa adoração mercantil de uma Senhora revestida de luz que apareceu sobre uma azinheira, facilmente se cai na idolatria de uma imagem, surda, muda, perante a qual muitos se prostram, de joelhos e de mãos estendidas, na ilusória esperança de uma solução mágica para as suas aflições.

Mas que Nova Evangelização tão estranha, que passa por procissões, venerações doentias a relíquias e a uma imagem associada a um culto atávico…

Parece-me, a mim, que a espiritualidade que temos para oferecer é, afinal, velha e caduca, de séculos.

Estéril, claustrofóbica e subserviente, não é libertadora e em nada contribui para nos chamar à responsabilidade de construir o Reino, para nos aproximar de Cristo, ou para nos realizarmos plenamente como homens, filhos amados de Deus.

Se eu, Católico Romano, tenho vontade de fugir destas manifestações de fé, imagino os destinatários do nosso proselitismo…

Entretanto, a iluminada intervenção do nosso Bispo, Senhor Cardeal Patriarca D. José Policarpo, na segunda-feira passada no programa Prós e Contras da RTP, fez mais pela nova evangelização da cidade do que 7 procissões da Senhora de Fátima, acompanhadas pelas relíquias da Sta. Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face.

Porém o Congresso para a Nova Evangelização é, felizmente, muito mais do que os infelizes actos simbólicos escolhidos para o assinalar.
cfr. em http://www.icne-lisboa.org/index.php?tem=1&cont_=100&lang=pt

quarta-feira, novembro 09, 2005

A amizade

A propósito da amizade..., esta frase circula há uns tempos na net e por isso alguns já a conhecerão. Para os outros aqui fica:
- Para ver a quantidade de amigos que você tem, dê uma festa.
- Para verificar a respectiva qualidade, adoeça.

terça-feira, novembro 08, 2005

Vamos nessa???............

Olá, nasci em Portugal, mas os meus pais são Angolanos. Vieram em '75 por causa da guerra 'tás a ver? Cresci num bairro de lata, sempre na esperança que o governo nos desse uma casinha. Esse dia chegou há poucos anos, 'tás a ver? Fomos realojados num bairro social 'tás a ver? Parece que existe uma norma europeia para pintar os bairros sociais de cores diferentes dos outros prédios. Os nossos têm sempre Azulão, Amarelão, Laranjão, Azuleijão, porquê?? Bem mas fora isso, é fixe, até tem a cozinha separada do WC.
Agora o meu drama, é que os meus cotas 'táo velhote, tás a ver ? E eu como sempre andei na vida do bairro ( xamon, esticão, autorádio), basei da escola, porque os prof's eram bué da dificeis, 'tas a ver?, e , juro meu, eu juro sempre pensei que o meu futuro era ser dealer de uma cena tipo.....coca. Mas não deu. Havia uns bros, mais antigos que tinham o negócio na mão, e eu perdi a onda, 'tas a ver' ?
E agora, men's ? Se digo que moro em Caxias, Funcheira, ou outro bairro, não me dão trabalho nem nas obras. porque mesmo esses job's, foram apanhados pelos boy's do Leste, 'tas a ver?

O QUE É QUE EU VOU FAZER??? Isto chegou ao ponto de fazermos como estão a fazer em França ( e Bélgica, e Alemanha ). Mostrar a nossa revolta contra o "bem" do gajo que mora uns bairros mais abaixo, e que comprou um carrito, tem uma empresa montada ( e até tem uns quantos empregados aqui do bairro, mas isso não interessa nada) e fogueiramos a cena 'tás a ver? Assim mostramos a nossa revolta por estarmos ostrasizados. Desculpem o portugês mas faltei nesta auola. 'Tas a ver?

Agora a sério. Não sei se esta "onda" ficará por França e arredores ou se alastrará por todos aqueles que foram colonizadores. Mas que a coisa está feia, está! Se num pais que (no meu entender) tem mais poder que o nosso Portugal, e mais a demonstrar internacionalmente, está há doze dias com milhares de carros e fábricas e outros estabelecimentos incêndiados, se a moda pega...estamos feitos.

Estava a escrever isto e de repente veio-me à ideia que durante o Verão havia algúem que pedia que as TV's tivessem algum cuidado com as imagens que mostravam à cerca dos incêndios....E a agora????? Com a mentalidade que muitos Brother's, Ibrahims, que por cá temos, se a coisa pega..... aí... aí,,, o meu carrinho!

A «Visita»...

Os ensinamentos daquela que julgo ser a mais recente, e mais nova*, Doutora da Igreja – Sta. Teresa de Lisieux, também conhecida, por aqueles mais dados a lamechices beatas por «Sta. Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face» - , são admiráveis, e merecem reflexão.
P.e.
«… Estamos num século de invenções. Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu também queria encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor — objecto do meu desejo —, e li as estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: Se alguém for pequenino, venha a mim. Aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas, e eis o que encontrei: — Como uma mãe acaricia o seu filho, assim eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos! Ah!, nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma. O ascensor que me há-de elevar até ao Céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus! excedestes a minha esperança, e eu quero cantar as vossas misericórdias.» (História de uma Alma)

«… Tu fazes-me pensar numa criancinha que começa a erguer-se de pé, mas que ainda não sabe caminhar. Querendo a todo o custo subir ao alto duma escada para estar com a sua mamã, levanta o pézito para subir o primeiro degrau. Mas é um esforço inútil! Cai uma e outra vez, sem chegar a avançar. Muito bem: aceita ser essa criança. Pela prática de todas as virtudes, levanta sempre o teu pézito para subires a escada da santidade. Não conseguirás subir o primeiro degrau sequer. Mas o que Deus apenas te pede é a tua boa vontade. Do alto da escada Ele olha-te com amor. Rapidamente vencido pelos teus inúteis esforços, Ele-mesmo baixará e tomando-te nos seus braços, levar-te-á para sempre para o seu reino, onde jamais te afastarás d’Ele. Mas se não chegares a levantar o teu pézito Ele deixar-te-á muito tempo na terra.» (Caderno Vermelho, escrito pela Ir. Maria da Trindade)

«O que agrada mais a Deus é que Ele me vê, amando a minha pequenez e a minha pobreza, a esperança cega que eu tenho na Sua misericórdia» (Carta 197)

«
Ó meu Deus! Trindade Bem-aventurada!
(…)Desejo cumprir plenamente a vossa vontade, e chegar ao grau de glória que me preparastes no vosso Reino; numa palavra, desejo ser santa. Mas conheço a minha impotência, e peço-Vos, ó meu Deus, que sejais Vós mesmo a minha Santidade. Já que Vós me amastes até me dardes o vosso Filho único para ser o meu Salvador e o meu Esposo, os tesouros infinitos dos seus méritos são meus: ofereço-Vo-los com alegria, suplicando-Vos que não olheis para mim senão através da Face de Jesus e no seu Coração ardente de Amor
.» (Oração 6: 1-2)


«Como ter medo d’Aquele que Se deixa prender por um cabelo que esvoaça no nosso pescoço!... Saibamos pois conservar prisioneiro este Deus que Se faz mendigo do nosso amor. Ao dizer-nos que um só cabelo pode realizar este prodígio, mostra-nos que as mais pequenas acções feitas por amor são as que Lhe cativam o coração... Ah! se fosse preciso fazer grandes coisas, quanto seríamos para lastimar?... Mas como somos felizes visto que Jesus se deixa prender pelas mais pequeninas...» (Carta 191)


«Sei que é preciso ser muito puro para aparecer diante de Deus de toda a Santidade, mas também sei que o Senhor é infinitamente justo e esta justiça que assusta tantas almas é a razão da minha alegria e confiança. […] Espero tanto da justiça de Deus como da sua misericórdia. É porque é justo que “Ele é compassivo e cheio de doçura, lento para a ira e cheio de misericórdia. Porque conhece a nossa fragilidade, lembra-Se de que não somos senão barro. Como um pai sente ternura pelos filhos, assim o Senhor tem compaixão de nós” [...] Aqui tendes, meu Irmão, o que penso sobre a justiça de Deus, o meu caminho é todo de confiança e de amor, não compreendo as almas que têm medo de um Amigo tão terno. Às vezes quando leio certos tratados espirituais em que a perfeição é apresentada através de inúmeras dificuldades, rodeada por uma quantidade de ilusões, a minha pobre inteligência cansa-se muito depressa, fecho o sábio livro que me quebra a cabeça e me seca o coração e pego na Sagrada Escritura. Então tudo me parece luminoso, uma só palavra revela à minha alma horizontes infinitos, a perfeição parece-me fácil, vejo que basta reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos braços de Deus. Deixando às almas grandes, às grandes inteligências, os belos livros que não posso compreender, e ainda menos pôr em prática, regozijo-me por ser pequenina visto que só as crianças e os que se assemelharem a elas serão admitidas ao banquete celestial. Sinto-me muito feliz por haver várias moradas no reino de Deus, porque se houvesse apenas aquela cuja descrição e caminho me parecem incompreensíveis, não poderia lá entrar.» (Carta 226, de 9.5.1897, ao P. Roulland).

«Para mim, a oração é um surgir do coração, um olhar simples para o céu. É um grito de gratidão e amor no meio das dificuldades como no meio das alegrias. É algo de grande, de sobrenatural que dilata a alma e me une a Jesus(História de uma Alma)

A definição de oração de Teresa na sua «História de uma Alma», que foi oficialmente acolhida no Catecismo da ICAR, é original em relação àquelas já conhecidas ou propostas pela teologia espiritual. A definição da Doutora Carmelita não assenta num método, numa lógica, não decorre do raciocínio escolástico, do desenvolvimento intelectual ou, sequer (como redutoramente imaginam alguns), de uma experiência puramente emocional. Eivada de poesia é, muito mais, uma experiência, melhor, uma vivência ontológica plena

Teresa ensina a pensar com o coração. A sua oração decorre da experiência da intimidade com Deus e é assim que ela reza. Para ela a oração não carece de palavras. Tem e decorre da energia gerada pelo amor e pela intimidade com Deus. O cultivo desta intimidade com Deus é a sua única ocupação.

A Graça, a bondade amorosa de Deus, ressoa em Teresa, que experimentou e viveu uma relação de amor, que foi evoluindo e que induziu o seu crescimento espiritual.

A jovem Doutora da Igreja celebra o amor do Criador e não se cansa de aludir aos «dons totalmente gratuitos de Jesus», e de como «só a Sua Misericórdia fez nascer tudo o que é bom nela». Os seus escritos incentivam-nos a abrirmo-nos à grandeza da Graça divina, para que esta entre em nós e conduza as nossas vidas.

É que nós somos e permanecemos livres e a Graça não nos é imposta.

Se nos centrarmos em nós próprios, se egoisticamente nos fecharmos aos outros, se arrogantemente contarmos só connosco próprios, permaneceremos finitos, ligados a um nada afastado de Deus.

Se, pelo contrário, quisermos e nos abrirmos a Jesus, Ele toma parte nas nossas vidas, não só através das nossas qualidades positivas mas também e, quiçá, principalmente, através da nossa fragilidade.

O infinito transubstancía a nossa finitude. Com a Graça somos levados, ou elevados, a uma santidade que participa da verdadeira vida de Deus. A Graça santificante, mais do que assistência à nossa pobre humanidade contingente, estabelece uma nova relação entre Deus e cada um de nós. É o poder transformante de Deus afectando a nossa própria substância.

Cheios de Graça, não ficamos, apenas, melhor do que éramos – como se Deus acrescentasse alguma bondade natural àquela que já tínhamos. Pela Graça, Deus muda a qualidade real do que somos na nossa humanidade.

A graça é a própria comunicação de Deus à nossa natureza humana. Ora, não existe comunicação num só sentido.

Gratuita como é, a Graça esbarra no autismo da nossa própria importância e auto-suficiência e é Teresa quem nos ensina o valor da pequenez e das nossas próprias imperfeições e insuficiências.
O amor de Deus e a Sua Graça chegam mais facilmente aos recônditos lugares onde reside a nossa pequenez, porque aí nós não os bloqueamos com a nossa própria importância arrogante e autosuficiente.

A pequenez de Teresa só o é relativamente à imensidade de Deus. Em comparação com a grandeza divina, a criatura reconhece a respectiva insignificância. No entanto, Teresa tinha plena consciência de que era muito, muito mais do que nada. Sucede que o muito mais era de Deus.

Agora digam-me, o que é que isto tudo tem que ver com o culto serôdio, alienante, mágico - a raiar a heresia -, das respectivas relíquias, que mais não são do que os restos apodrecidos da Santa, ou melhor, «da santinha».

Se algum valor tivessem, se de alguma vida fossem veículo, tais restos, ou relíquias, animar-se-iam de indignação e escândalo com o uso que deles é feito para a alienação das consciências e para o efectivo afastamento das pessoas em relação Àquele que se tornou próximo e nos chama sem mediações - Jesus.

*P.S. Maria Francisca Teresa Martin - Thérèse de Lisieux, Carmelita, francesa, nasceu em 1873 e morreu em 1897. Canonizada em 1925, foi proclamada Doutora da Igreja em 1997.

segunda-feira, novembro 07, 2005

A propósito dos incidentes em França

cfr.
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/natureza-humana-ii.html ,

http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2005/11/l-como-c-c-como-l.html ,

http://www.abrupto.blogspot.com/2005_11_01_abrupto_archive.html#113135767303274598 e
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/o-ovo-da-serpente-de-uma-gerao.html